sexta-feira, 17 de setembro de 2010

‘Não podemos ser intelectualmente neutros’ -Hernán Sorhuet

Hernán Sorhuet concedeu entrevista após sua inteligível palestra no curso ‘Os desafios do Meio Ambiente’

Segundo o código de ética dos jornalistas brasileiros, que está disponível no site da FENAJ- Federação Nacional dos Jornalistas, ‘a informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo’. Porém não é claro que esta prática acontece, principalmente no âmbito das pautas ambientais. A fim de mudar essa realidade e capacitar interessados, aconteceu nos dias 20 e 21 de agosto o curso ‘Os desafios do Meio Ambiente’, promovido NEJ-RS- Núcleo dos Ecojornalistas do Rio Grande do Sul. Dentro da programação do evento houve a palestra com o colunista uruguaio Hernán Sorhuet.
Sua visão lúcida da realidade incentivou-me a escolher o profissional para a entrevista, que respondeu todas as perguntas olhando nos olhos e convicto das ideias que já deveriam estar em voga. Como tínhamos pouco tempo, Hernán, que trabalha há 28 anos no jornal “El País”, respondeu 3 perguntas e definiu palavras chaves para o jornalismo ambiental.


Qual a sua visão da prática do jornalismo ambiental?

Como falei hoje o jornalismo ambiental é chamado a fazer e ser o protagonista do século XXI, porque a diferença do convencional, tem a obrigação de abordar os temas, as notícias, com um olhar sistêmico. Considerar as múltiplas variáveis que interagem em qualquer situação social e da Natureza. Isso significa que com esse desafio do jornalismo ‘moderno’ aqueles jornalistas que não incorporarem essa ampla visão de realidade vão realizar um trabalho fraco. O problema ainda está na formação, lamentável, o jornalismo do futuro ainda não está sendo contemplado.

E como vai acontecer esse triunfo do jornalismo ambiental verdadeiro dentro das mídias?

É a relação direta entre a demanda e os jornalistas. Os meios de comunicação hoje não buscam periodistas ambientais porque não percebem que dentro do que inclui Meio Ambiente, estão as variáveis da sociedade: educação, saúde, economia... O jornalismo ambiental deveria estar em melhor qualidade, porque considera todas as variáveis.

Uma questão contemporânea são os cadernos específicos de meio ambiente nos jornais. Qual a sua opinião sobre esses suplementos?

Os suplementos específicos de Meio Ambiente foram muito úteis quando o tema começou a ser tratado. Mas hoje, com o avanço, evolução, parece evidente que já não há sentido uma seção, um suplemento de Meio Ambiente. Porque na realidade, a complexidade do tema obriga que cada cidadão (leitor e periodista) tenha incorporado essa visão ampla e complexa. Um bom periódico deveria ter um plantel de jornalistas que independente do assunto/área tenha incorporado a lição ampla e profunda do jornalismo ambiental. Cada jornalista do periódico deveria demonstrar essa sensibilidade para desenvolver o periódico em sua especialidade com o qual acabe o sentido do caderno ambiental. Então para que ter uma seção específica? Se todos sabem e se preocupam com a questão ambiental.

Aquecimento Global:

Grande problema a resolver com a sociedade moderna. E esse é o tema ambiental que tem logrado/ conseguido interessar os tomadores de decisões (políticos, empresários...), porque tem grandes custos econômicos.

Amazônia:

Um bom exemplo das grandes decisões que a nossa geração deve tomar (o que mantêm e o que destrói) frente as próximas gerações que não tem oportunidade de opinar hoje.

Conservação:

Usar, utilizar, racionalmente, sustentavelmente a diversidade biológica.

Preservação:

Manter intocado, sem modificar certos fragmentos da biodiversidade de um país.
Para concluir a entrevista, gostaria que o senhor deixasse um recado para os estudantes de jornalismo:
Estás estudando para ser o jornalista do futuro. Duas obrigações que não podes deixar de lado:
1- Sempre buscar a verdade, embora doa.
2- Capacita-te de forma indefinida, sempre pense que tens que melhorar, que te falta muito. Não pare de estudar nunca.

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