quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Está disponível uma matéria muito interessante sobre as relações étnico-raciais no site da Unisinos, vale a pena ler sobre o assunto:



Eles compreendem hoje mais de 50% da população brasileira e, nem mesmo estando em maioria, são tratados com o respeito que lhes é devido. Eles trabalharam, e continuam trabalhando, muito para a construção do país em que hoje vivemos. São discriminados e em alguns casos entram cedo no mundo do crime, ficando à margem da sociedade. Eles são os afrodescendentes. Na quinta-feira (22/10), a professora Leonor Franco de Araújo, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) esteve na Unisinos para participar do evento Encontros de Formação de Professores, palestrando sobre a temática Reflexões sobre a reeducação das relações étnico-raciais.

Em entrevista ao JU Online, ela afirmou que entre os objetivos do evento está mostrar a invisibilidade da questão racial no Ensino Superior brasileiro, que é originalmente europeu e formado dentro de preceitos racistas. “A discussão tem avançado muito nas instituições particulares, que abrigam projetos como o Programa Universidade para Todos (ProUni). Hoje, alunos de classe média alta estudam em federais, vistas como espaço de saber qualificado. Por isso essa resistência em relação às quotas para negros. É uma grande disputa de poder.”

Leonor ainda completa: “Precisamos tirar as pessoas da inércia, fazendo com que o preconceito se afaste ou que elas se assumam racistas. A situação se agrava porque a maioria não se considera racista. Queremos mostrar que no Brasil essa é uma questão social, antes considerada socioeconômica. E é capaz de piorar: a pessoa pode ainda ser pobre, mulher ou homossexual.” Há uma necessidade de mudança de atitude em função, entre outros pontos, da naturalização do processo discriminatório. “As piadas, por exemplo, desqualificam. São ações que fazem mal para a construção do outro. Assim se dá o racismo velado, aquele que está escondido atrás dos discursos acadêmicos e de quem quer provar que ele não existe.”

Além de o problema ser da sociedade em geral, é, em especial, da própria população negra, que em muitos casos não se autoidentifica. “Já dizia um antigo ditado: é preciso toda uma aldeia para educar uma criança. Hoje, o acesso a educação é universal e nem mesmo os professores estão preparados para atender a essa demanda. Os alunos se vêem não da forma como são, mas da forma como querem ser: loiros, altos e de olhos claros. Típicos europeus”, ressaltou ela, afirmando conhecer negros que não aceitam medidas como a inserção de quotas nas universidades públicas. “Não é uma questão de mérito, e sim de oportunidade. Quem não tem oportunidade, não tem projeto, não tem sonho. Conheço muitos professores negros que não admitem isso, não reconhecem que seus pais ou avós fizeram muitas faxinas e levantaram muitos tijolos para que eles tivessem acesso à educação.”

Para resolver o problema, muitas medidas já estão sendo tomadas pelo Governo. “As Políticas Públicas de Ações Afirmativas conseguem dar conta desses problemas e, possivelmente, trarão à cena política e ao espaço de poder outras pessoas”, destaca a palestrante. Além disso, o MEC trabalha no Plano Nacional de Implementação da Lei, em especial às que trabalham o pluralismo religioso e as relações étnico-raciais (10.639 e 11.645), que prevêem ações nos âmbitos nacional, estadual e municipal. “O ministério tem como funções induzir, sensibilizar e esclarecer, além de produzir material didático sobre o tema. De forma alguma fiscalizar, que é função do Ministério Público. Nosso objetivo é educar e não punir”, finalizou.

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