Dia 23 de setembro, no mesmo dia da ativação das turbinas eólicas na costa de Kent, no sul da Inglaterra, aqui no sul do Brasil aconteceu uma manifestação em frente à sede do IBAMA do Rio Grande do Sul com cerca de 100 pessoas, em grande parte estudantes de Biologia e ambientalistas (entidades filiadas à APEDEMA-RS), contra a construção da hidrelétrica de Pai Querê. A manifestação teve um ato simbólico de um caixão com ramos de araucária, sendo a frase que marcou o ato foi “Pai Querê pra quê?” A obra, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento, visa a produção de 292 MW, o equivalente a um parque eólico, e está prevista para o rio Pelotas, entre os municípios de Bom Jesus e Lages, justamente em uma das Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Brasil (MMA, 2007). Os ativistas denunciam que esta seria a quinta hidrelétrica de grande porte, e em série, no mesmo rio e incidiria em uma região de maior ocorrência de espécies ameaçadas restritas à região, provocando a morte de 200 mil araucárias (mais detalhes em http://sosriopelotas.wordpress.com).
O ato foi provocado pela possibilidade da emissão da LP (licença prévia) ainda este mês, pois a pressão do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil é muito grande. Nesta mesma quinta-feira chuvosa também foi entregue uma carta ao Superintendente do IBAMA, João Pessoa Moreira Jr., que resultou em uma pequena audiência com um grupo de oito manifestantes (entre eles o professor da UFRGS Paulo Brack) que foram recebidos em seu gabinete. Estes reclamaram a falta de informações sobre o andamento do processo, e a questão da não definição de audiências públicas, além de destacarem que todos os indicadores apontam para a inviabilidade da obra. O Superintendente declarou que o licenciamento do empreendimento está a cargo da Direção de Licenciamento do órgão, sediada em Brasília e que não estão autorizados a intervir no processo. João Pessoa ressaltou que fez contato recente com a coordenação do setor em Brasília a garantiu que encaminhará o documento a chefia do órgão. A posição centralizada em Brasília, quanto aos licenciamentos de obras do PAC, tem a justificativa da prioridade destes empreendimentos para o governo federal, apesar de que Pai Querê agregaria menos de 5% à energia já produzida pelas hidrelétricas da bacia.
O pior de tudo é que esse assunto sério não está sendo discutido na sociedade, na mídia, nem no meio acadêmico da comunicação. E sabe como é, a repercussão é zero se a mídia não abre o jogo sobre a realidade dos fatos.
E se a palavra SUSTENTABILIDADE está tão em voga, como não discutir essa obra do PAC, que tipo de aceleração é essa?
Porque não investir no potencial eólico do Rio Grande do Sul, do Brasil? Se gostamos tanto de imitar os ingleses, na boa música e na cultura, porque também não investimos nas usinas eólicas? Gerando assim energia de uma maneira limpa e renovável.
Para finalizar: logo após o protesto, o grupo se deslocou em passeata em direção do grupo RBS como forma de chamar a atenção dos meios de comunicação que até agora não tem noticiado nada em relação a esta grande ameaça à biodiversidade e às quatrocentas famílias que seriam atingidas e desalojadas pelo empreendimento.